domingo, 17 de julho de 2016

Corra a Justiça como um Rio Perene: Uma voz profética em tempos obscuros

O que tem a ver Michel Temer com o profeta Amós que viveu mais de 2.700 anos atrás? Teria Amós deixado uma mensagem cifrada para Temer, Cunha, Rodrigo Maia, Malafaia, Waldomiro, Marco Feliciano e outros?!


Esta semana Temer anunciou mais ataques aos direitos previdenciários dos trabalhadores, cortando benefícios do auxílio-doença, além dos ataques anteriores ao propor que a aposentaria por idade se dê aos 70 anos de idade, quando em boa parte dos Estados brasileiros, a média de vida é inferior a essa idade. Quem necessita da previdência, de auxílio-doença, auxílio-desemprego, aposentadoria e demais benefícios? Os trabalhadores, os pobres, as viúvas, os órfãos, os deficientes físicos, enfim, aqueles que não são possuem o capital, que dependem exclusivamente de sua força física para sobreviver. É a esses que Temer tem prejudicado com seus ataques e retrocessos. 

Também nesta semana a Câmara de Deputados elegeu como seu presidente Rodrigo Maia, deputado do DEM (ex-PFL, ex-PDS, ex-Arena), filho das elites. Depois de eleito ele agradeceu o apoio dos pastores Silas Malafaia, R. R. Soares e Waldemiro Santiago, com parte da bancada evangélica que o apoiou, em que pese a maior parte liderada pelo deputado Marco Feliciano ter apoiado Rosso, o candidato de Eduardo Cunha. Ambos, Maia e Rosso, farinha do mesmo saco junto com Temer na política neoliberal de ataque aos direitos trabalhistas e a seguridade social. 

Então me lembrei de Amós, o profeta que viveu cerca de 750 a.C. no reino de Judá, que passava por um período de prosperidade, mas que atacava de forma semelhante os direitos dos pobres. Na verdade Amós era um pastor de ovelhas, um homem comum do povo, e segundo ele a Palavra de Deus lhe veio através de uma visão. Então ele rugiu como um leão: “Reúnam-se nos montes de Samaria para verem o grande tumulto que há ali e a opressão no meio do seu povo” (Amós, 3:9). Amós chama atenção para a opressão que há nas cidades de Judá. A palavra dele é contra aqueles que sempre promovem a opressão, os ricos e poderosos: “Derrubarei a casa de inverno com a casa de verão; as casas de marfim perecerão, e as grandes casas serão destruídas, diz o Senhor” (Amós 3:15). Qual o motivo da ira de Deus? O profeta responde em 4:1 “Ouçam esta palavra, vocês, vacas de Basã que estão no monte de Samaria, vocês, que oprimem os pobres e esmagam os necessitados e dizem aos senhores deles: "Tragam bebidas e vamos beber!”; e em 5:7 e 10-12 “Vocês estão transformando o direito em amargura e atirando a justiça ao chão... Vocês odeiam aquele que defende a justiça no tribunal e detestam aquele que conta a verdade. Vocês pisam no pobre e o forçam a dar-lhes o trigo. Por isso, embora vocês tenham construído mansões de pedra, nelas não morarão; embora tenham plantado vinhas verdejantes, não beberão do seu vinho. Pois sei quantas são as suas transgressões e quão grandes são os seus pecados. Vocês oprimem o justo, recebem suborno e impedem que se faça justiça ao pobre nos tribunais”.  

Ao ver figurões do mundo gospel apoiando essa agenda e esses políticos conservadores, filhos da elite, a impressão que se dá é que Deus está em concordância com eles, uma vez que são líderes de grandes denominações, ajuntam multidões e possuem templos caros e poderosos. Mas Amós é muito claro na mensagem de Deus para eles: "Eu odeio e desprezo as suas festas religiosas; não suporto as suas assembleias solenes. Mesmo que vocês me tragam holocaustos e ofertas de cereal, isso não me agradará. Mesmo que me tragam as melhores ofertas de comunhão, não darei a menor atenção a elas. Afastem de mim o som das suas canções e a música das suas liras. Em vez disso, corra a retidão como um rio, a justiça como um ribeiro perene! " (Amós 5:21-24). Isso também se refere aos grandes cantores e artistas do mundo gospel, com suas canções que expressam mais a enfermidade das almas do que o reconhecimento a um Deus que ama e celebra a justiça, a bondade, o amor. Amós lança um repto a eles: "Vão a Betel e ponham-se a pecar; vão a Gilgal e pequem ainda mais. Ofereçam os seus sacrifícios cada manhã, os seus dízimos no terceiro dia. Queimem pão fermentado como oferta de gratidão e fiquem proclamando por aí suas ofertas voluntárias; anunciem-nas, israelitas, pois é isso o que gostam de fazer", declara o Senhor Soberano.” 

Nesses tempos sombrios e obscuros, em que a voz profética foi calada pelos sacerdotes das grandes igrejas, denominações e religiões, me uno a Amós em sua advertência e clamor: Corra a justiça como um rio perene. Sim, a voz profética de uma igreja comprometida com o evangelho da transformação, da libertação, que dá voz aos oprimidos, que privilegia os fracos e injustiçados, precisa ser proferida. Segundo o profeta Amós, para Deus a justiça, a misericórdia e  a retidão são superiores aos cultos, cânticos, dízimos, ofertas e festas que o mundo gospel tanto privilegia. As campanhas feitas nessas igrejas são para encher o bolso de seus líderes e para doutrinar um povo cordeirinho com um sistema social iniquo, com um mundo político aliado das grandes corporações econômicas que têm destruído a vida e o planeta, obras do Criador. Paulo advertiu numa de suas cartas que o evangelho não se tornasse segundo os valores ‘deste século’ (Romanos 12:2), mas desgraçadamente foi o que aconteceu com o mundo gospel, pacífico com os ricos, com as elites, manipulando o povo com uma ideologia do querer ter sempre mais, da soberba, do egocentrismo e da idolatria a Mamon. Um evangelho moralista que se torna a cada dia mais amoral e imoral. Mas vozes proféticas se levantam, pois “Certamente o Senhor Soberano não faz coisa alguma sem revelar o seu plano aos seus servos, os profetas.” (Amós 2:7).