quarta-feira, 24 de maio de 2017

A Enfermidade da Nação Brasileira e a Voz Profética dos Jovens que foram a Brasília Manifestar

A Nação brasileira está enferma, profundamente enferma. Enquanto o povo sofre com altas taxas de desemprego (30% dos jovens em idade economicamente ativa estão desempregados), as cidades mergulhadas no aumento da violência, da insegurança, os governantes se atolam no lamaçal da corrupção, dos interesses próprios e na promiscuidade entre público e privado. Cada dia diminui a esperança de que as coisas possam melhorar. Como um algoz que empurra os trabalhadores ao cadafalso, o senador Ricardo Ferraço, do PSDB-ES e relator da Reforma Trabalhista, deu prosseguimento hoje a essa reforma que se constitui no maior achaque contra o povo brasileiro.

Tudo isso me lembra o profeta Isaías, que olhando para a sua Nação que se encontrava em situação semelhante, clamou: “Ah, nação pecadora, povo carregado de iniquidade! Raça de malfeitores, filhos dados à corrupção! Abandonaram o Senhor, desprezaram o Santo de Israel e o rejeitaram. Por que haveriam de continuar a ser castigados? Por que insistem na revolta?” O profeta viu a enfermidade que assolava a nação “A cabeça toda está ferida, todo o coração está sofrendo. Da sola do pé ao alto da cabeça não há nada são; somente machucados, vergões e ferimentos abertos, que não foram limpos nem enfaixados nem tratados com azeite.” Numa situação bem parecida, inclusive com essa que aconteceu hoje também, da Câmara dos Deputados votar a diminuição da maior reserva florestal da Amazônia: “A terra de vocês está devastada, suas cidades foram destruídas a fogo; os seus campos estão sendo tomados por estrangeiros, diante de vocês, e devastados como a ruína que eles costumam causar. (...) Sua prata tornou-se escória, seu licor ficou aguado” (Isaías 1:4-7). A enfermidade da nação foi identificada pelo profeta como a corrupção de seus líderes: “Seus líderes são rebeldes, amigos de ladrões; todos eles amam o suborno e andam atrás de presentes.” Por fim, o profeta identifica o maior sintoma da enfermidade “Eles não defendem os direitos do órfão, e não tomam conhecimento da causa da viúva” (Isaías 1:21-23).

O profeta denuncia o sistema iníquo, a perversidade daqueles que praticam a injustiça. Das balanças cujos pesos são alterados no mercado, numa referência alusiva às empresas que praticam operações fraudulentas, criação de condições artificiais, acúmulo ilícito de facilidades e atividades destruidoras do meio ambiente. Mas o profeta também proclama a boa notícia de que existe a cura. Ele diz que a cura também está nas feridas. Mas nas feridas do Messias. Porém, para que a Nação possa usufruir dessa cura, terá que existir uma Voz Profética que a anuncie. E Ele ouve do Senhor a indagação: “A quem enviarei? E quem irá por nós?” A essa pergunta o profeta responde se dispondo imediatamente: “Eis-me aqui. Envia-me a mim!” (Isaías 6:8).

A questão que cabe indagar nesse momento de profunda enfermidade da Nação brasileira é: quem é a voz profética que se levanta para anunciar a cura? Seria a Igreja? Mas, qual tem sido a sua voz? De um evangelho profético, que denuncia as mazelas cometidas na nação contra o seu povo, como fez o profeta Isaías, que chama a Nação para um conserto coletivo como povo, que chama à redenção através da prática da justiça? Ou será essa igreja com um evangelho individualista dos Malafaias e malafeitos que beira a caricatura do evangelho bíblico e profético? Essa igreja, com esse evangelho tosco, não tem a capacidade ética e moral, nem a aliança com o Cordeiro, para anunciar sua Justiça. Basta continuar lendo o profeta Isaías para entender isso: “O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo?” (Isaías 58:6-7).

As feridas causadas no Messias são a fonte da cura, porque o Messias, “que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!” (Filipenses, 2:6-8), nos ensina a poderosa mensagem do serviço, do servir, e não do procurar ser servido. Despojamento, fé comunitária, caminhada comum com os que sofrem, traduzidas em esperança. Essa seria a potente mensagem de cura para as Nações que a igreja contemporânea abandonou para buscar ser servida pelo sistema dominante, prostituindo-se com os valores e as benesses que a riqueza material podem lhe proporcionar.

Hoje eu vi centenas de milhares de jovens, filhos de todas as partes da Nação brasileira se dirigindo à Brasília, para as manifestações que acontecerão amanhã, dia 25. São os profetas desta geração. São os que levantam a voz para dizer: há cura, há esperança. E o meu mais profundo desejo é que o Espírito do Senhor esteja sobre eles durante esse tempo de confronto e de dor, para que venha a cura.


Fidelis Paixão

Nenhum comentário: