A
Nação brasileira está enferma, profundamente enferma. Enquanto o povo sofre com
altas taxas de desemprego (30% dos jovens em idade economicamente ativa estão
desempregados), as cidades mergulhadas no aumento da violência, da insegurança,
os governantes se atolam no lamaçal da corrupção, dos interesses próprios e na
promiscuidade entre público e privado. Cada dia diminui a esperança de que as
coisas possam melhorar. Como um algoz que empurra os trabalhadores ao
cadafalso, o senador Ricardo Ferraço, do PSDB-ES e relator da Reforma
Trabalhista, deu prosseguimento hoje a essa reforma que se constitui no maior
achaque contra o povo brasileiro.
Tudo
isso me lembra o profeta Isaías, que olhando para a sua Nação que se encontrava
em situação semelhante, clamou: “Ah,
nação pecadora, povo carregado de iniquidade! Raça de malfeitores, filhos dados
à corrupção! Abandonaram o Senhor, desprezaram o Santo de Israel e o
rejeitaram. Por que haveriam de continuar a ser castigados? Por que insistem na
revolta?” O profeta viu a enfermidade que assolava a nação “A cabeça toda está ferida, todo o coração
está sofrendo. Da sola do pé ao alto da cabeça não há nada são; somente
machucados, vergões e ferimentos abertos, que não foram limpos nem enfaixados
nem tratados com azeite.” Numa situação bem parecida, inclusive com essa
que aconteceu hoje também, da Câmara dos Deputados votar a diminuição da maior
reserva florestal da Amazônia: “A terra
de vocês está devastada, suas cidades foram destruídas a fogo; os seus campos
estão sendo tomados por estrangeiros, diante de vocês, e devastados como a
ruína que eles costumam causar. (...) Sua
prata tornou-se escória, seu licor ficou aguado” (Isaías 1:4-7). A
enfermidade da nação foi identificada pelo profeta como a corrupção de seus
líderes: “Seus líderes são rebeldes,
amigos de ladrões; todos eles amam o suborno e andam atrás de presentes.”
Por fim, o profeta identifica o maior sintoma da enfermidade “Eles não defendem os direitos do órfão, e
não tomam conhecimento da causa da viúva” (Isaías 1:21-23).
O
profeta denuncia o sistema iníquo, a perversidade daqueles que praticam a
injustiça. Das balanças cujos pesos são alterados no mercado, numa referência
alusiva às empresas que praticam operações fraudulentas, criação de condições
artificiais, acúmulo ilícito de facilidades e atividades destruidoras do meio
ambiente. Mas o profeta também proclama a boa notícia de que existe a cura. Ele
diz que a cura também está nas feridas. Mas nas feridas do Messias. Porém, para
que a Nação possa usufruir dessa cura, terá que existir uma Voz Profética que a
anuncie. E Ele ouve do Senhor a indagação: “A quem enviarei? E quem irá por
nós?” A essa pergunta o profeta responde se dispondo imediatamente: “Eis-me
aqui. Envia-me a mim!” (Isaías 6:8).
A questão que cabe indagar nesse
momento de profunda enfermidade da Nação brasileira é: quem é a voz profética
que se levanta para anunciar a cura? Seria a Igreja? Mas, qual tem sido a sua
voz? De um evangelho profético, que denuncia as mazelas cometidas na nação
contra o seu povo, como fez o profeta Isaías, que chama a Nação para um
conserto coletivo como povo, que chama à redenção através da prática da
justiça? Ou será essa igreja com um evangelho individualista dos Malafaias e
malafeitos que beira a caricatura do evangelho bíblico e profético? Essa
igreja, com esse evangelho tosco, não tem a capacidade ética e moral, nem a
aliança com o Cordeiro, para anunciar sua Justiça. Basta continuar lendo o profeta Isaías para entender isso: “O jejum que
desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo,
pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida
com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e
não recusar ajuda ao próximo?” (Isaías 58:6-7).
As
feridas causadas no Messias são a fonte da cura, porque o Messias, “que, embora sendo Deus, não considerou que o
ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos
homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até
à morte, e morte de cruz!” (Filipenses, 2:6-8), nos ensina a poderosa
mensagem do serviço, do servir, e não do procurar ser servido. Despojamento, fé
comunitária, caminhada comum com os que sofrem, traduzidas em esperança. Essa
seria a potente mensagem de cura para as Nações que a igreja contemporânea
abandonou para buscar ser servida pelo sistema dominante, prostituindo-se com
os valores e as benesses que a riqueza material podem lhe proporcionar.
Hoje
eu vi centenas de milhares de jovens, filhos de todas as partes da Nação brasileira se dirigindo à
Brasília, para as manifestações que acontecerão amanhã, dia 25. São os profetas
desta geração. São os que levantam a voz para dizer: há cura, há esperança. E o
meu mais profundo desejo é que o Espírito do Senhor esteja sobre eles durante
esse tempo de confronto e de dor, para que venha a cura.
Fidelis Paixão
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