quarta-feira, 20 de outubro de 2010

MANIFESTO DE AMBIENTALISTAS EM APOIO À DILMA ROUSSEFF

Diante da possibilidade e da necessidade de se fazer uma escolha tão importante para o futuro do país neste segundo turno das eleições presidenciais, ambientalistas de diversos pontos de nosso território se reúnem a partir deste documento para manifestar seu apoio à candidata e mulher Dilma Rousseff para presidente do Brasil.

Nós, que apoiamos a candidatura de Marina Silva no primeiro turno, sabemos que são muitos os desafios que nos esperam para garantir a sustentabilidade socioambiental que tanto almejamos. Uma sustentabilidade que permita o pleno desenvolvimento do país, com geração de trabalho e renda para milhões de brasileiros e com respeito aos limites da natureza.

Graças as suas excelentes condições naturais, o Brasil é um país que tem enormes possibilidades de trilhar o caminho do desenvolvimento sustentável. Para isso, basta que seus governantes ajustem seu foco para a agenda que nós ambientalistas já estamos apontando há alguns anos. Infelizmente, poucos governos se interessaram em dar apoio ou em implementar estes projetos. Mas, o movimento socioambientalista é composto por pessoas persistentes, que jamais esmoreceram nem vão esmorecer tão cedo nesta luta em defesa do modelo que acreditamos ser exeqüível para o nosso país.

Essa característica nos faz agora assumir com firmeza política o apoio à Dilma. Mesmo considerando que o governo Lula não foi tão longe quanto poderia ir na área de meio ambiente, avaliamos como indiscutíveis os avanços deste em relação ao governo anterior, comandado pelo PSDB de Fernando Henrique Cardoso. Consideramos também que a eventual eleição do candidato José Serra representaria um enorme e perigoso retrocesso nas políticas ambientais brasileiras.

Nos últimos oito anos, o Brasil avançou em suas políticas ambientais e se consolidou como um ator de primeira importância nas discussões internacionais sobre temas como mudanças climáticas, proteção à biodiversidade e preservação das florestas, entre outros. Nós avaliamos que as conquistas do país na área ambiental são méritos tanto da gestão de Marina Silva à frente do Ministério do Meio Ambiente quanto da gestão de Carlos Minc, que a substituiu no MMA.

Declaramos, portanto, nosso apoio à Dilma porque estamos cientes de que o Brasil comandado por ela poderá e quererá avançar mais em sua política ambiental. Por isso, apresentamos à apreciação da candidata alguns pontos dessa política que fazem parte da plataforma de lutas do movimento socioambientalista brasileiro:

- Aprofundar junto à sociedade civil e às entidades do movimento socioambientalista as discussões sobre as alterações propostas no CÓDIGO FLORESTAL e evitar o retrocesso na legislação ambiental atualmente defendido por alguns setores da sociedade representados no Congresso Nacional;

- Implementar as deliberações das CONFERÊNCIAS DE MEIO AMBIENTE em âmbito nacional;

- Permitir o acesso pleno da sociedade civil à gestão do FUNDO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE e de outros fundos do setor como forma de facilitar a implementação da Política Nacional de Meio Ambiente;

- Garantir a rotulagem de produtos contendo qualquer quantidade de TRANSGÊNICOS;

- Promover a repartição dos benefícios oriundos dos conhecimentos das POPULAÇÕES TRADICIONAIS;

- Convocar as redes e organizações socioambientalistas do país para atuarem como elo na preparação da RIO+20;

- Investir e incentivar a utilização das FONTES RENOVÁVEIS na geração de energia na matriz energética;

- Garantir a participação da sociedade civil no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE);

- Regulamentar o Artigo 23 da Constituição Federal e fortalecer o LICENCIAMENTO AMBIENTAL como forma de gestão territorial;

- Adotar de uma política nacional de SEGURANÇA QUÍMICA e implementar os acordos químicos internacionais, como as convenções de Basiléia e de Estocolmo;

- Banir o uso do MERCÚRIO em produtos e processos no Brasil, assim como banir o chumbo da produção de tintas;

- Regular e controlar o uso de AGROTÓXICOS e tirar o Brasil da vergonhosa posição de maior consumidor mundial destes produtos;

- Implementar um amplo programa de EFICIÊNCIA ENERGÉTICA em toda a cadeia produtiva;

- Moratória à criação de novas USINAS NUCLEARES;

- Priorizar a implementação das AGENDAS 21 LOCAIS em todos os municípios brasileiros, com aporte de recursos significativo e condicionado ao cumprimento de metas para a diminuição do desmatamento;

- Apoiar a implementação de COMITÊS DE BACIAS hidrográficas em todo o território nacional, incluindo suas respectivas agências de bacias;

- Implementar mecanismos de cobrança do uso da água nas unidades de gerenciamento de RECURSOS HÍDRICOS que ainda não tenham sido instaladas;

Nós, abaixo assinados, estamos convictos que um governo comandado por Dilma Rousseff terá muito mais condições e vontade política para implementar esse conjunto de propostas - assim como de fortalecer a participação do movimento socioambientalista na elaboração e implementação das políticas públicas ambientais - do que um governo de José Serra.

Por isso, na luta por maiores avanços e contra o retrocesso representado pela candidatura do PSDB e do DEM, declaramos nosso firme apoio à candidatura de Dilma!

Assinam:

Andre Luz – Rio de Janeiro
Alexandre Oliveira - Rio de Janeiro
Arthur Moretti - Rondonia
Carlos Siqueira – Pará
Cintya Barenho – Rio Grande Sul
Dionísio Carvalho – Piauí
Fidelis Paixão – Pará
Gustavo Cherubini – São Paulo
Ivan Marcelo Neves – Rio de Janeiro
José Antonio dos Remédios – Rio de Janeiro
José Miguel da Silva – Rio de Janeiro
Jauster Lima - Rio de Janeiro
Jorge Amaro de Souza - Borges - Viamão/Porto Alegre
Jauster Lima - Rio de Janeiro
Luciana Luiza Chaves Azevedo - Belo Horizonte/Minas Gerais
Magno Neves – Rio de Janeiro
Mauricio Thuswold – Rio de Janeiro
Márcia Moisés - Rio de Janeiro
Mauri José Schneider - Paraná
Nelson Pedroso – São Paulo
Pedro Aranha – Rio de Janeiro
Patrícia Simone Dal`col – Rio de Janeiro
Paulo R.F. Dutra - Judiaí / São Paulo
Paulo Renato de Carvalho Dias - Rio de Janeiro
Sandro Paulo de Assumpção Oliveira - Rio de Janeiro
Tereza Cristina Ribeiro - Rio de Janeiro
Zuleica Nycz – Paraná

PS: O Manifesto esta aberto para adesoes. Envie seus dados para ivanmarcelo@terra.com.br

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Comunicação e Cultura: uma visão para conquista da terra pela ótica do Reino de Deus


Ministração que fiz no I Congresso Paixão e Ousadia do Ministério Ágape da Restauração na Bahia, que aconteceu em Porto Seguro, dias 29 e 30 de maio 2010.

INTRODUÇÃO: Toda história da humanidade se resume em três atos: Criação, Queda e Redenção. A história e nossa missão precisam ser analisados sob a ótica desses eventos. Jesus é o Senhor de cada parte e do conjunto de nossas vidas, tudo o que fazemos deve ser por ele e para ele: na arte, na cultura, na profissão, no governo, na mídia etc. O ato redentivo se iniciou na cruz e é o dever-ser da igreja, como corpo de Cristo. Por isso precisamos entender a distinção entre a graça “salvadora” e a graça “redentora” (Col. 1:15-20).

I. A criação e a comunicação se originaram em Deus. É por sermos semelhança dele que somos capazes de produzir cultura, pois em João 1:1-3 vemos o “logos” que comunica e que traz à existência através de sua ação comunicativa. A nossa ação comunicativa, o uso da palavra e a interação são capazes de gerar universos culturais.

II. Na Palavra há uma referência aos ministros do Senhor como labaredas de fogo (Sl. 104:4). Seria uma referência às mídias de comunicação? Elas exerceram e exercem um papel fundamental na definição da identidade e na mobilização da comunidade. O sino (com a igreja no centro das vilas), o alto-falante (que substituiu o sino e exigiu especialização na linguagem), as rádios, TV e internet (que exigiram ainda maior qualificação para domínio de suas linguagens), tudo isso são instrumentos para mobilização e comunicação, modelando perfis e definindo identidades. Dessa forma, a mídia é instrumento para exercício do poder, e o Brasil está à mercê de 7 famílias e grupos que controlam 90% dos meios de comunicação.
   
III. A nossa visão de comunicação, como povo evangélico, assim como nossa visão da arte, tem sido meramente propagandística e instrumental. Elas servem apenas a objetivos evangelísticos, pois não admitimos a “arte pela arte”, como diz Schaeffer. A arte só tem razão e valor se a reduzirmos a propaganda. Mas a “arte pela arte” é bíblica e comunica beleza (II Crônicas 3:6,7,16,17).

IV. A arte e a ciência têm um lugar na vida cristã, não são periféricos, como diz Schaeffer. Uma obra de arte pode ser, em si, uma doxologia (uma expressão de adoração e louvor à Glória de Deus). O que torna a arte cristã não é necessariamente o fato de ela tratar das questões religiosas, pois a arte não precisa ser necessariamente “fotográfica” (como podemos ver nas romãs azuis de Êxodos 28:33). Francis Bacon, Copérnico e Galileu acreditavam que, pelo fato de o mundo ter sido criado por um Deus racional, eles poderiam buscar a verdade do universo por meio da razão. Da mesma forma um artista pode buscar  e expor em sua obra de arte as expressões da beleza e da grandeza do Criador.

V. Em Isaías 60:1-6 o Senhor comunica a visão de que todas as culturas virão com suas riquezas diante do Seu Trono. O que tornou Israel especial para Deus foi o rhema, especial mas não “exclusivo”, pois todas as Nações e culturas pertencem ao Senhor. O pecado de Israel e muitas vezes o nosso pecado é esquecermos de que Deus estabelece uma aliança conosco para que sejamos benção para outras pessoas, outros povos e Nações. Como diz Don Richardson, devemos reconhecer o que ele chama de Fator Melquisedeque (aspecto redentivo) e o Fator Sodoma (maldição) em cada cultura, para entender e desfrutar das riquezas das Nações. De forma semelhante, em relação à arte e à cultura, não devemos nos considerar portadores exclusivos de expressão de amor e adoração a Yahweh.
 
VI. Tendo sido feitos à imagem do Criador, somos chamados à criatividade. De fato, sermos criativos ou termos criatividade faz parte da imagem de Deus em nós. A pessoa que realmente ama a Deus, que trabalha sob o senhorio de Cristo, pode escrever sua poesia, compor sua melodia, confeccionar instrumentos musicais, esculpir estátuas, pintar telas – mesmo que ninguém jamais veja – Ele sabe e vê. Não devemos pensar que Davi era profeta apenas quando escrevia prosa, pois sua poesia era igualmente inspirada. Como podemos dizer ou pensar que Deus despreza poesia? De forma alguma, nem a poesia e nem outras formas de expressão artística. O teatro, por exemplo, é apresentado biblicamente em Ezequias 4:1-3, já a dança em Salmo 150, ou seja, Deus se alegra e ama a arte como expressão da criatividade humana.

CONCLUSÃO: Não vamos deixar de comunicar a verdade básica e irredutível do evangelho da salvação do pecador, mas exercer amplamente nossa visão e vocabulário da redenção de todas as coisas criadas. A arte como expressão da alma curada, restaurada, redimida, é responsabilidade do cristão e missão da Igreja. Se o mundo tem se expressado através de uma arte que comunica muitas vezes morte, destruição e apatia, isso se deve ao distanciamento da Igreja de sua missão redentora de todas as coisas em Cristo Jesus.

Referências utilizadas (e de leitura recomendada):
1. Schaeffer, Francis A. A Arte e a Biblia, Viçosa-MG, Editora Ultimato, 2010.
2. Richardson, Don. O Fator Melquisedeque, São Paulo, Editora Vida Nova: 1995.
3. Horton, Michael Scott. O Cristão e a Cultura, 2a ed, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2006

domingo, 7 de março de 2010

A MULHER NA BIBLIA

A MULHER NA BIBLIA
Um libélulo contra a opressão feminina a fim de que os propósitos de Deus sejam restaurados.
Introdução

Os dados estatísticos revelam a situação de opressão, discriminação e sujeição a que são submetidas as mulheres em nossa sociedade. Segundo a ONU 70% delas já foram ou serão vítimas de algum tipo de violência; recebem salários cerca de 20 a 30% inferior aos homens mesmo tendo as mesmas qualificações e exercendo as mesmas funções; tem uma participação minoritária nas funções de governo e comando público, que mal chega a 17%; isso só para citar alguns dados, e sem nos referir à situação em que vivem as mulheres sob o regime islâmico, dentre outros.

1. O propósito de Deus


A Bíblia registra em Gênesis 1: 27-28 e 2:24 que o propósito de Deus, desde o princípio, é que o domínio (o governo) sobre toda a Criação fosse exercido pelo homem e pela mulher, e que ambos fossem uma unidade, uma só carne diante de Deus. Nunca foi propósito de Deus que o gênero masculino governasse sobre o gênero feminino.


O pecado trouxe a maldição da sujeição da mulher ao homem (Gen. 3:16), pois o pecado gerou a quebra da unidade entre homem e mulher, quando Adão culpou Eva por sua própria desobediência, assim como gerou a quebra da unidade entre o ser humano e a natureza, quando Eva culpou a serpente pela sua própria desobediência (Gen. 3:12-13). Num ambiente de acusações mútuas não haveria mais possibilidade de unidade, de perfeição, de integração.


Mas o próprio Deus anunciou sua intenção de restaurar todas as coisas aos seus propósitos eternos, anunciando que do ventre da própria mulher nasceria aquele que haveria de atingir a capacidade de governo (cabeça) da serpente (Gên. 3:15). Ali foi estabelecida uma inimizade entre satanás e o gênero feminino que explica (mas não justifica) tanta opressão, tanta violência, tanta aversão ao gênero feminino que gerou enfermidades na alma de tantas gerações, tantas civilizações e muitos povos e sociedades, como a misoginia e a “reificação” da mulher em objeto de satisfação sexual.

2. O Ministério da Restauração


O Ministério de Jesus, anunciado por Deus desde o momento da queda do primeiro Adão, é um ministério de restauração e reconciliação de todas as coisas com Deus, realizando o propósito do Criador para a criação (Colossenses 1:19-20).

Jesus é o cabeça do corpo, que é a Igreja (Colossenses 1:18 e Efésios 1:22-23) e cabe ao Corpo realizar a obra de Cristo, que é a obra da restauração dos propósitos do Criador para a criação (Mateus 28:18-20 e I Coríntios 12:12-13).

3. A inferioridade da mulher na Igreja


O apóstolo Paulo anunciou um princípio espiritual em Gálatas 3:28, afirmando que homem e mulher são um em Cristo Jesus. Isso está perfeitamente de acordo com o ato da criação, quando a Palavra diz que “homem e mulher, os criou à sua imagem e semelhança” (Gênesis 1:27). Ou seja, diante de Deus homem e mulher são iguais, não há um maior e outro menor, não há um mais parecido e outro menos parecido com Deus, pois ambos são imagem e semelhança do Criador.


A Bíblia registra diversas mulheres e seu papel e serviço ministerial no Reino de Deus, entre elas quero destacar: Miriã, a profetiza (Ex. 15:20); Débora, a juíza (Jz. 4:4); Jael, a guerreira (Jz. 4:17-21); Ana, a profetiza (Lucas 2:36); Febe, a trabalhadora da Igreja de Cencréia (Rm. 16:1); Priscila, a discipuladora (Atos 18:24-26); as quatro jovens filhas de Felipe, profetizas (Atos 21:9); Trifena, Trifosa e Pérside, as trabalhadoras para o Senhor (Romanos 16:12); Ninfa, que hospedava uma igreja em sua casa (Filemon 1:2). Enfim, uma imensa variedade de mulheres exercendo uma variedade de ministérios, no Velho e no Novo Testamento.

Essa mensagem por si só é revolucionária. Ela destrói toda cultura, toda altivez, todo pensamento, toda tradição que se levanta para estabelecer o machismo e a sujeição da mulher ao homem. Mas se é assim, por que a mulher assumiu um papel tão inferior na Igreja? Por que muitas denominações que se dizem cristãs rejeitam o ministério feminino? Por que é fácil aceitar uma mulher diaconisa, mesmo que não exista um exemplo de uma diaconisa na Bíblia, mas não é fácil aceitar uma pastora, uma bispa ou uma apóstola? Por que durante tanto tempo a maior parte da Igreja cristã relegou as mulheres ao papel da presença invisível nos cultos, nas atividades religiosas, nas congregações e no meio do povo de Deus?


A falta de entendimento da Igreja acerca dos propósitos e dos princípios estabelecidos por Deus, com uma leitura e uma interpretação distorcida, incompleta e influenciada pelo padrão comportamental de um mundo envolto numa cultura machista, impediram que a Igreja anunciasse o evangelho da restauração dos propósitos de Deus para o relacionamento entre homens e mulheres como uma unidade em Jesus Cristo e como herdeiros do governo sobre toda a criação. Essa falta de entendimento levou a que se trocasse o princípio por uma norma, uma regra, e é isso que gerou todo o engano no meio do povo de Deus.

Paulo, falando às Igrejas de Corinto e Éfeso deu ordem expressa para que as mulheres se calassem, não participassem da liturgia dos cultos, que se pronunciassem apenas em casa, para seus maridos. Confrontar essa norma, essa regra, de Paulo para essas duas igrejas, com o princípio que ele mesmo anunciou à Igreja da Galácia, de que em Cristo Jesus não há distinção entre homem e mulher, poderia parecer uma contradição. Mas não é uma contradição, porque as regras, as normas, são inferiores aos princípios. E a regra é estabelecida para ser aplicada em um caso específico, numa situação específica, que foi o que aconteceu com os Corintos e os Efésios.


Isso porque Corinto e Éfeso eram duas cidades caracterizadas pela presença dos templos de Afrodite (deusa do amor e do sexo) e Artemis, também conhecida como Diana, a mais popular entre os deuses do panteão romano e que mais recebia sacrifícios, que representa a figura feminina selvagem e descomprometida com o lar e a família. Naquelas comunidades atuavam milhares de prostitutas cultuais, disseminando uma crença e uma cultura de superioridade da mulher sobre o homem e um comportamento de absoluta decadência moral e orgias sexuais. Ao ordenar que as mulheres não participassem da liturgia do culto naquelas Igrejas cristãs, o apóstolo Paulo estava confrontando uma cultura estabelecida, visando sua superação. Essa é a única forma adequada de entender a aplicação de uma regra específica aparentemente contraditória com um princípio que o próprio apóstolo acreditava e anunciava, como fez em Gálatas 3:28.

Ademais, a palavra “autoridade” aparece 68 vezes no Novo Testamento. A tradução da língua original do NT (grego) para o português não contemplou a diversidade de conceitos semelhantes, englobando todos no mesmo vocábulo. Isso podemos ver em cinco diferentes situações bíblicas, tais como em Mateus 7:29, ao se referir à “autoridade” que Jesus exercia, a palavra original utilizada foi “exousia”, aliás, a mais comum em todos os episódios e referências que receberem essa tradução. Já em Romanos 13:3, ao se referir à “autoridade” dos governantes, comandantes e líderes, a palavra original foi “archon”. Em Mateus 20:25 e Marcos 10:42 como referência à “autoridade” exercida pelos políticos maiorais, a palavra original foi “katexousiazo”, que tem o mesmo sentido de “exousiazo”. Em I Timóteo 2:2, em sua admoestação para orar em favor dos reis e dos que exercem “autoridade”, assim como na pregação de Paulo em I Coríntios 2:1, a palavra original foi “huperoche”. Apenas em I Timóteo 2:12, quando Paulo diz que “não permito que as mulheres ensinem ou tenham “autoridade” sobre os homens, a palavra original usada foi “authenteon”.


Nos melhores léxicos vemos o significado de “authenteon” como “o completo poder sobre”, “controlar de maneira arrogante e tiranizadora”, “gritar ordens”, “agir como chefe com”, “latir para”, “dominar sobre”. Então é fácil entender sobre qual tipo de autoridade Paulo estava se referindo para impedir que fosse exercida pela mulher naquelas Igrejas de Corinto e Éfeso.

4. A Mulher virtuosa não é a Amélia


Quando o Senhor anunciou através do profeta Joel que derramaria do Seu Espírito sobre toda a carne, promessa que se cumpriu no Pentecostes, Ele disse “vossos filhos e vossas filhas profetizarão (…) e até sobre os servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias” (Joel 2:28-29). Mais à frente, Paulo falando aos próprios Corintos e aos Efésios disse “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres” (Efésios 4:11), ou seja, falando sobre a diversidade de dons e ministérios que operam no Corpo de Cristo, onde homens e mulheres juntamente servem ao Senhor, não distinguindo a que tipo sexual se aplicaria quaisquer desses dons.


Mas a maior expressão sobre como a Palavra de Deus vê a mulher, como o propósito de Deus se estabelece no gênero feminino, está registrada em Provérbios 31:10-31, chegando mesmo a afirmar que a mulher virtuosa administra seu lar (v. 15), mas que também é uma empreendedora, que examina propriedades e compra, que com sua renda financeira planta lavouras (v. 16), que produz e vende bens no mercado (v. 24), que fala com sabedoria e instrução (v. 26), ou seja, é uma mulher alfabetizada, letrada, estudiosa.


Ou seja, longe do estereótipo de “Amélia, a mulher de verdade”, a mulher do padrão bíblico é temente ao Senhor e realiza plenamente seu potencial criativo e de governo. E não adianta tentar apelar para Efésios 5:22-23 sobre o papel da esposa no lar de submissão ao marido, porque precisamos entender o sentido pleno do que é estar sub-missio, ou seja, debaixo de uma missão, auxiliando na realização de uma missão, que certamente não tem nada a ver com subjugação. E depois, o papel mais difícil não é o de ser submisso, mas é o delegado aos maridos, de amar suas esposas “como Cristo amou a Igreja”, isso sim é missão difícil. Alguém tem conseguido isso? Eu estou apenas começando a tentar isso e, confesso, preciso muito da graça de Deus para cumprir esse propósito.


Conclusão 

Se a Igreja não tivesse se deixado contaminar com a cultura dominante da época e do mundo e tivesse simplesmente anunciado o Evangelho da restauração de todas as coisas aos propósitos originais estabelecidos pelo Criador, não existiria feminismo, nem organizações ou movimento feminista, talvez nem existisse tanta opressão feminina no mundo como existe atualmente. Mas quando a Igreja cala a sua voz profética, então vivemos a tragédia que estamos vendo se abater sobre as mulheres e daí só resta à Igreja libertar-se, transformar-se, renovar-se para conhecer e experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Romanos 12:2).



Aos 08 de março de 2010 – Dia Internacional da Mulher